sábado, 22 de agosto de 2009

Hollywood reinventa Esparta

A história do Rei Leônidas vira filme a partir de Graphic Novel.
Por Gabriel Leão em 25/07/2007


No MTV Movie Awards - premiação cinematográfica realizada pela emissora homônima estadunidense - o filme 300 (2007) que conta a história de 300 soldados espartanos que retardaram a invasão persa em 480 a.C levou o prêmio de melhor cena de luta. A atração constituída de novos recursos de filmagem e cenas impactantes será lançada em DVD no Brasil no dia 1º de Agosto. Além da bilheteria de US$ 450.234.156,00 a franquia ainda conta com uma Graphic Novel na qual se inspirou e artigos colecionáveis como bonecos, bonés e roupas.


A Batalha de Termópilas, um dos primeiros embates entre Ocidente e Oriente tendo como personagens espartanos e persas foi pouco retratada pela mídia, sendo preterida em filmes e livros épicos pelas passagens de imperadores romanos como Júlio César ou a Guerra de Tróia. 300 apresenta uma saga de heroísmo que renderia outras muitas versões nas quais poderiam ser abordados os pontos de vista dos atenienses que se ausentaram do combate, de Xerxes rei da Pérsia ou de um soldado espartano que sobreviveu ao embate como no livro Portões de Fogo de 1998. Em 1962 foi lançado o filme Os 300 de Esparta.


Muito diferente da versão cinematográfica que traz espartanos semi-nus no campo de batalha cobertos apenas por uma sunga e capa vermelha, os guerreiros históricos portavam uma armadura de placas e saiotes. Tão pouco o esquadrão de Xerxes, rei persa, não utilizava a máscara metálica ostentada no filme. Nos textos antigos, o exército persa possuía mais de 250.000 homens, porém, de acordo com pesquisadores atuais como Steven Pressfield, o número é próximo de 80.000 soldados.


“Filmes épicos raramente são fiéis ao que realmente ocorreu, mesmo porque a história naquele período era contada para vangloriar o feito do povo heleno”. Com essa afirmação o historiador e sociólogo, Flávio Benedito aponta a maneira ‘hollywoodiana’ de contar histórias, não muito diferente do historiador grego Heródoto (484 aC – 420 aC) conhecido por romantizar seus textos e até hoje uma das únicas fontes para aquele período.


O filme foi inspirado pela graphic novel de Frank Miller de mesmo nome. A obra impressa foi lançada pela editora Devir no Brasil e o responsável é editor Leandro Luigi. Para ele “Miller sempre apresenta personagens emblemáticos que, invariavelmente, se vêem diante de grandes adversidades e têm que de se reerguerem para que suas próprias essências que as distinguem de pessoas comuns voltem com força renovada”.


Para Luigi, Miller tentou ser fiel à história, porém “sempre é preciso ‘florear’ ou inserir elementos fictícios para dar mais força à narrativa e não deixar que a mesma se torne apenas uma transposição documentária.”


A Graphic Novel, lançada em 1998, chegou oito anos depois nas telas de cinema aos cuidados de Zack Snyder. Na verdade a versão de 1962 sobre a batalha era uma analogia à Guerra Fria e mesmo não obtendo sucesso o filme também serviu de inspiração para Miller.


O 300 de Zack Snyder que também dirigiu A Madrugada dos Mortos (2004), apresenta uma concepção gráfica computadorizada baseada em Sin City (2005), além de uma ação rápida e batalhas violentas. A história de Sin City também foi escrita por Frank Miller.


Os filmes épicos tiveram seu apogeu nas décadas de 50 e 60 sendo o mais significativo Ben-Hur de 1959 com Charlton Heston e vencedor de 11 Oscars. O último grande êxito durante esse período foi Cleópatra com Elizabeth Taylor em 1963. Hollywood só voltaria fortemente ao filão no ano de 1995 depois da aclamação de Coração Valente de Mel Gibson e o marco principal deste retorno é Gladiador de Ridley Scott lançado em 2000.


O Professor de Comunicação & Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Fernando Salinas explica que “no cinema você tem de adaptar a linguagem ao público, no começo dos épicos aparece escrito que não é totalmente baseada em fatos reais e devemos não esquecer que os 300 de Esparta em si já é uma lenda. Essa película foi feita para o público e não para historiadores”.

Texto produzido para a aula de Jornalismo Cultural ministrada por Maurício Stycer no Senac Lapa Scipião em 2007.

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