domingo, 11 de dezembro de 2016

Um país negligente no Tráfico de Seres Humanos busca melhorar sua imagem

Divulgação

Nos primeiros dias após o desaparecimento de sua filha Ana Paula em 2009, foi até uma equipe televisiva que estava há algumas quadras de sua casa em uma vizinhança de classe média baixa, na cidade de Carapicuíba, estado de São Paulo, Brasil.

Sandra se aproximou da van e contou ao produtor que sua filha estava desaparecida. Por trás de lentes do óculos, olhos vazios a encararam secamente: “para lhe dizer a verdade, senhora, sua filha é importante apenas para você. Ela não é relevante para a emissora, não nos dará audiência. Me desculpe”.

Enquanto Sandra recorda a história, seus olhos castanhos revelam uma rotina de poucas horas de sono, e por uma boa razão: Ana Paula talvez não seja apenas uma desaparecida. A mãe crê que pode ter sido vítima de tráfico de pessoas.

Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas afeta 2.4 milhões de pessoas pelo mundo, e é quase tão rentável quanto o tráfico de drogas e contrabando de armas, faturando para os traficantes US$ 32 bilhões por ano. A ONU também aponta que 2/3 das vítimas desta atividade são mulheres e crianças, enquanto a maioria dos traficantes são homens. Aproximadamente 80% das vítimas se tornam escravas sexuais, enquanto 18% acabam em trabalhos forçados incluindo agricultura, construção e indústria de alimentos.

O Brasil é um dos maiores agentes nesta indústria, tendo 110 rotas internas e 131 externas que levam as vítimas para China, Coréia do Sul, Espanha, Holanda, Venezuela, Itália, Portugal, Paraguai e Suíça. De acordo com o Ministério de Justiça brasileiro 254 pessoas foram vítimas de tráfico humano em 2013. Mas este número é muito menor que a realidade acreditam ativistas e acadêmicos.

Para a antropologista brasileira Laura Lowenkron da Universidade de Campinas em São Paulo, especialista em violência sexual contra mulheres e crianças: a raça, etnia, gênero ou sexualidade não necessariamente “torna alguém mais ou menos vulnerável ao crime”. Ela aponta que estes “fatores de vulnerabilidade” no tráfico de seres humanos vêm sendo usados globalmente para justificar o controle de viagens de imigrantes de regiões mais pobres do mundo ao invés de protegê-los das verdadeiras violações ou garantir seus direitos, especialmente enquanto estão em trânsito.

De olhos azuis, loira e mestiça, Ana Paula Moreno aos 23 anos era uma estudante de Artes quando desapareceu. Sua mãe a viu pela última vez às 5 horas e 30 minutos da manhã de 3 de outubro de 2009 assim que saiu de casa para pegar o ônibus. Sandra Moreno posteriormente descobriria que sua filha não havia usado o bilhete único do transporte público paulista naquele dia, conforme registros de trânsito, além de Sandra lembrar que sua filha não carregava dinheiro naquela manhã.


Após aquele dia, Sandra Moreno deixou seu trabalho e sentindo-se ignorada pelas autoridades iniciou por conta própria uma longa busca por sua filha.

Tentando entender a profundidade do problema

Checar dados estatísticos sobre vítimas de tráfico humano é um desafio, principalmente no Brasil onde as vítimas são confundidas com mulheres que optaram por trabalhar no mercado do sexo. Lowenkron acredita que no país há duas definições para o tráfico de pessoas: uma baseada no que é conhecido como Protocolo de Palermo e outra no código penal do país.

O Protocolo de Palermo, adotado e ratificado pela ONU em 2000, defende que o crime de tráfico de pessoas é “o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extração de órgãos”.

Este protocolo serve de guia para O Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de 2006. Porém, a interpretação do sistema judiciário brasileiro aponta exclusivamente a facilitação de transporte nacional e internacional de pessoas para os propósitos de prostituição e outras formas de exploração sexual independente de coação. “Muitas campanhas chamam atenção para o fato de que o tráfico de pessoas é um crime ‘oculto’ e que os números não contabilizam boa parte dos casos”, aponta Lowenkron. Mas é importante destacar, defende a mesma, que muitos dos casos oficialmente documentados e definidos como tráfico podem não estar associados a violações de direitos humanos, mas criminalizando a intermediação da migração de prostitutas, seguindo o Código Penal Brasileiro.

Por conta da dependência do país nestas duas definições distintas (O Código Penal Brasileiro e o Protocolo de Palermo), as autoridades brasileiras agem de maneira contraditória quanto a identificação de quem é vítima de tráfico ou atua em prostituição, afirma Lowenkron. Para aumentar a confusão o cumprimento das leis no país não é homogêneo em seus 26 estados e distrito federal. Leis usadas para atividades criminais regionais e locais também influenciam diversas respostas dentro do combate ao tráfico de pessoas.

O argentino Ariel Dulitzky da ONU é membro do Working Group on Enforced or Involuntary Disappearances (WGEID – Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários, em tradução livre) que trabalha dentro da Divisão de Tráfico de Pessoas da entidade internacional para combater a rede envolvendo crime organizado e corrupção estatal. O advogado e professor universitário na Universidade do Texas nos EUA afirma que governos podem colaborar para resolver desaparecimentos – ou atuar de maneira perversa para promovê-los.

Por exemplo, em julho, a Interpol resgatou 2700 pessoas após uma operação contra o tráfico de seres humanos na América Latina que usava aeroportos na Argentina, Brasil e Colômbia. A ação conjunta desarticulou o cartel que atuava em 25 países. Entre as vítimas havia 27 adolescentes que seriam conduzidas para a indústria do sexo ou condições de trabalho análogas à escravidão.

Entretanto, Dulitzky aponta a existência de casos onde há a conexão de tráfico de pessoas, desaparecimentos forçados e a cumplicidade de entidades estatais. Durante as décadas de 1970 e 1980, as ditaduras sul-americanas realizaram a infame Operação Condor, uma campanha de terror focando em assassinatos e sequestros para subjugar opositores de esquerda e extrema-esquerda. Contando com o suporte dos EUA teve como membros Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. A estimativa é que unidos tenham matado 60 mil pessoas e desaparecido com outras tantas mais.

Um país com problemas de imagem

Por meio de sua ONG Mães da Sé, Ivanise Esperidião afirmar ter ajudado milhares de mães a encontrarem seus filhos, enquanto ela mesma segue buscando sua Fabiana desaparecida desde 1995. A Praça da Sé fica no coração de São Paulo e é onde o grupo de mães se reúne com regularidade frente à catedral da cidade com pôsteres de seus desaparecidos.

Quando Esperidião se depara com provas que apontam para tráfico de pessoas ela busca as autoridades, em especial a promotora pública Eliana Vendramini que encabeça o PLID (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos), o qual mantém um registro de pessoas desaparecidas integrado com dados de delegacias de polícia e necrotérios. O PLID também tem outdoors e pôsteres pelas estações de trem para conscientizar sobre a questão e seus casos. Esperidião considera Vendramini uma valiosa aliada e explica que a promotora está constantemente cobrando melhorias das autoridades.

Assim como Sandra Moreno, Ivanise Esperidião é outra mulher de meia idade que raramente sorri. Com sua voz cansada me conta que a discussão sobre o tráfico de pessoas é recente no Brasil sendo que no início não era levado à sério pelos policiais, pois “acreditavam ser uma lenda urbana”.

Enquanto ainda o consideram uma “lenda urbana”, este crime chegou ao horário nobre da televisão brasileira. Em 2012, a novela “Salve Jorge” da TV Globo tinha em sua trama uma personagem que era vítima de um cartel de tráfico de pessoas levando o assunto para a discussão nacional. A luta de Esperidião também apareceu em telenovelas, no entanto, a questão dos desaparecidos ainda é recente para as agendas política e social do país.

Para Lowenkron o tráfico de pessoas só passou a ser discutido no país após intervenção e parcerias internacionais formadas entre organizações locais e suas contrapartes no hemisfério norte. A imagem do Brasil preocupa o seu governo, defende a antropóloga, e ser considerado um espaço com altos índices de tráfico humano “não é favorável para a imagem do país para o mundo”. Então por estas questões ela vê a motivação do governo em atuar, mas além deste ponto as motivações são bastante complexas.

“Tinham interesse em controlar a migração de brasileiros pobres, especialmente prostitutas, para a Europa”, afirma Lowenkron. A antropóloga também vê parte do movimento contra o tráfico como parte de uma onda de xenofobia que surgiu com a crise global de refugiados tendo as autoridades brasileiras se preocupando com a chegada de pobres estrangeiros em seu território.

Neste momento, o Brasil tem a chance de mudar sua imagem no cenário global. Lowenkron aponta ser um caminho para se “construir uma imagem mais favorável do estado brasileiro para a comunidade internacional, mostrando que o país está seguindo os compromissos assumidos em tratados internacionais de direitos humanos dos quais é signatário”.

Enquanto isto, Sandra Moreno segue trabalhando com o problema em um nível pessoal. Em meio a sua tristeza conseguiu criar uma ONG chamada Instituto Ímpar que dá suporte para familiares de desaparecidos, promove palestras e eventos de arte, e enquanto sente que as chances de encontrar Ana Paula sejam poucas continua acreditando que cada pista “é um raio de esperança”. À sua maneira segue lutando.

Sandra Moreno e Ana Paula Moreno / Arquivo Pessoal


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Arte e Erotismo

Mini Documentário sobre arte erótica produzido por alunos do Mackenzie do curso de Jornalismo em 2007.

Grupo composto por Renato Togawa, Ulisses Andreguetto, Bruno Maia Abbud, Cibele Molina, Pérola Prado e Gabriel Leão.


Arte e Erotismo - 1ª Parte from Gabriel Leão on Vimeo.


Arte e Erotismo - 2ª Parte from Gabriel Leão on Vimeo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Conte Sua História de São Paulo

A história do boxeador Leandro Siqueroli se tornou um capítulo do programa "Conte Sua História de São Paulo" da CBN com locução de Milton Jung, sonorização de Claudio Antonio e texto de Gabriel Leão.

Para escutar acesse o link: "O Lutador".

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Programa Fiscais da Natureza

Untitled from fiscaisdanatureza on Vimeo.



Créditos

Editora-Chefe e Apresentadora
Priscila Kirsner

Direção Geral
Cristina Kirsner

Direção de Estúdio
Gabriel Leão*


Produção
Paloma Lolo

* Na edição de 29/11/2009 Gabriel Leão participa como co-apresentador.

O Programa

O programa FISCAIS DA NATUREZA vai ao ar todos os domingos às 16h10, ao vivo. Com uma hora e meia de duração, os entrevistados das mais variadas áreas, discutem temas ambientais do interesse de todos. Os internautas podem participar do programa, enviando perguntas e comentários através do "Chat On Line" ou no "Linha Direta". É TV NA INTERNET! www.alltv.com.br.

Site Fiscais da Natureza

domingo, 23 de agosto de 2009

Conhece aquele menino de rua no farol?

A saga de um pequeno marginal que ousou bater contra o mundo, e perdeu.

Por Gabriel Leão em 15/05/2009

Sabe aqueles garotos que param frente ao seu carro pedindo esmolas e fazem malabares com bolinhas de tênis? Eles têm uma realidade muito mais cruel do que a vista através da janela dos automóveis, semelhante ao visto em Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007). “Querô – Uma Reportagem Maldita” de Plínio Marcos, mostra essa violência e, mesmo sendo da década de 70 a história ainda está presente, pois como dizia seu autor: “minhas peças são atuais porque o país não evoluiu”. E dado o número de menores delinqüentes nas ruas das metrópoles brasileiras a constatação do falecido autor tem razão.


Sob a direção de Marco Antonio Rodrigues, a história se passa em um ambiente de prostitutas, marginais, delatores, policiais corruptos, onde não há heróis, mas sim muitos escroques, como várias histórias reais do Brasil. Quero nasceu em um romance escrito em 1976 e foi aos palcos pela primeira vez 3 anos depois. Nesse período dominava o Brasil a ditadura e eram reais as cenas de homens fardados descendo o cassetete em garotos mal vestidos, envoltos em cobertores e drogados em pleno dia no centro da cidade. Hoje essa violência é mais contida pelo menos enquanto há a luz do sol. O texto de Plínio faz uma denuncia ao estilo de vida desses meninos e como a sociedade os aceita.


A história agora é encenada em São Paulo pelo Grupo Folias d’Arte. Como o personagem principal que dá título à peça, Regis Silva, apesar de ter passado já dos seus 20 anos, dá credibilidade ao menor violento e drogado com seu jeito ligeiro de andar em cena que lembra um rato nervoso acuado, além da fala acelerada e cheia de gírias típicas desses jovens.


Querô é um tipo levado à rebeldia pela sociedade: não conheceu o pai, a mãe era prostituta que se suicidou, estuprado no reformatório, torturado por policiais. Uma personagem que apesar da pouca idade já passou por diversas dificuldades e inúmeros tipos de humilhações. Essa biografia, atrai a atenção de um repórter, que vai ao seu encontro quando ele é baleado e está febril (uma sensação que o ator consegue transmitir muito bem). É para o jornalista que Querô conta sua história e seu apelido dado após sua mãe se suicidar tomando querosene. Os fatos relacionados ao seu passado voltam como cenas de flashbacks e mantém a narrativa não linear prendendo a atenção do público para entender a história.


O cenário e o vestuário têm uma estética chamativa que interage com o texto. “O figurino é uma concepção da direção que isso é um grande circo, um programa de TV, um show, um cabaré. Por isso os figurinos estão ligados ao show, não às putas de rua, mas às de Moulin Rouge. Temos muitas referências de circo de palhaços e bailarinas, porque é um show que realmente ocorre aqui”, explica Paula Flaiban que interpreta a cantora da casa das meninas. As personagens, apesar de apresentarem traços muito realistas, se vestem como se tivessem saído de um dos ‘inferninhos’ de Sin City, do americano Frank Miller, só que com muitas cores.


As músicas misturam composições originais de Bruno Perillo, antigo parceiro de Plínio Marcos, e o Folias adicionou marchinhas de carnaval para aumentar o clima de fanfarronice brasileira em que o crime rola solto e as autoridades fazem vista grossa. A trilha sonora também contém músicas que fogem do plano original, mas que se encaixam perfeitamente com as cenas, como a versão de Iron Man do grupo de heavy metal Black Sabbath. O espectador pode tentar descobrir quais são as outras versões distorcidas que embalam a ação.


O Grupo Folias tem mais de 10 anos de estrada e sempre apresentou em suas peças questões envolvendo conflitos sociais e políticos mostrando diversos pontos de vista, sempre sustentados por atores talentosos. Isto é o que os fazem durar tanto tempo em sua base no centro paulistano. O grupo prioriza a qualidade dos seus membros, mas sempre é possível ver algumas musas em suas encenações. A idéia de ter Querô em cartaz é uma forma de homenagear Plínio Marcos (1935 – 1999) após uma década de sua morte. O autor atormentou os censores da ditadura com seus questionamentos e sua vontade de não ficar quieto.


Esses recursos e o histórico do grupo e do autor ajudam Rodrigues e seus atores a contar a história do menino carente. A dramaturgia no original tem um perfil de denúncia gritante em plenos “anos de chumbo”, mas nessa versão relata a realidade conhecida por boa parte da população, então não é mais um grito pedindo ajuda e passa a ser apenas mais uma ocorrência da violência urbana como acontece em tantas delegacias por aí e são mostradas em programas de jornalismo policial no fim da tarde.


Querô, uma Reportagem Maldita.
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; até 26/4
Onde: Galpão do Folias (r. Ana Cintra, 213, Santa Cecília, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3361-2223)
Quanto: R$ 30 (R$ 8 para moradores do bairro)
Classificação: não indicado a menores de 14 anos


Nota: Texto para a disciplina de Edição de Jornalismo Especializado ministrada pelo Prof° Lucas Pires. Universidade Presbiteriana Mackenzie curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo.

Água gratuita na balada para prevenir overdose

Política de redução de danos obriga casas noturnas a terem bebedouros


Por Gabriel Leão e Ulisses Andregueto em 24/11/2007


As casas noturnas de São Paulo possuem os preços mais altos de serviços do Brasil. Uma garrafa de água chega a custar R$ 6. Entretanto, com a Lei do Bebedouro, do deputado estadual Simão Pedro (PT), os estabelecimentos são obrigados a ter bebedouros disponíveis para os freqüentadores.


Promulgada em 7 de agosto, a lei não visa apenas a economia dos baladeiros, mas é também é uma política de redução de danos para os usuários de ecstasy que, em caso de overdose, podem morrer de desidratação.


De acordo com o deputado, a idéia para o projeto de lei surgiu há três anos, depois que recebeu a visita de mães de jovens viciados em ecstasy. Elas lhe contaram que seus filhos haviam sofrido overdose por não se hidratarem.


A Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (ABEAD) orienta que se alterne o consumo de bebidas alcoólicas com água e bebidas não alcoólicas, o que auxilia o consumidor a não ficar embriagado, outro dos males que a lei tenta reduzir.
O pesquisador estadunidense Peter Jennings em seu trabalho “Ecstasy Rising” (A ascensão do Ecstasy, em tradução livre) afirma que, quando se usa qualquer tipo de droga estimulante, a temperatura corporal aumenta. Quando isso ocorre num ambiente quente como os das danceterias, nos quais há aglomeração de pessoas, a temperatura corporal sobe ainda mais, aumentando o risco de ataque cardíaco, que pode ser fruto de desidratação causada pelo consumo de drogas legais ou ilegais.


Para Simão, não é um passo para a legalização das drogas. “Trata-se apenas de uma política de redução de danos”, diz. “Não podemos ‘cobrir o sol com a peneira’. Os problemas existem e precisamos encontrar soluções.”


Para o DJ Mauro Borges, é estranho “oficializar” o consumo de drogas com a lei do deputado petista. O músico é líder do grupo Que Fim Levou o Robin, existente desde 1988, e conta que naquela década “o consumo era amplo, uma tradição iniciada nos anos 60, of course, mas era mais cocaína. Com os anos 90, vieram as drogas sintéticas como ecstasy, ácidos e cristal, e o número de usuários aumentou com a moda clubber”.


O DJ Marcos Vicente, organizador da festa Autobahn, afirma que em sua festa o consumo de drogas “é terminantemente proibido e todos os seguranças são orientados a não aceitar nada disso, mas tem casas que acham que precisam flexibilizar para manter o público. Recebi segurança novo procurando emprego que perguntou se podia liberar, porque na casa em que trabalhava ele recebia essa orientação”. Não existiria essa lei, segundo ele, se a repreensão fosse efetiva. “Nós não aceitamos, mas acho que a maioria das casas aceita”, complementa.


Para Vicente, proprietário da balada com temática dos anos 80 promovida no Hotel Cambridge, no centro, “quem tem dinheiro para comprar ecstasy com certeza tem condições de comprar uma garrafa de água. O argumento de Simão Pedro então é fraco, pois essa droga custa muito mais caro do que a garrafinha. Seria mais fácil combater o consumo do ecstasy nas casas. Isso evitaria não apenas esse distúrbio, mas todos os outros que podem ser causados pelo consumo de drogas”.

Reportagem produzida para a disciplina "Criação de Texto I" ministrada pelo Prof° Ms. Sérgio Rizzo. Universidade Presbiteriana Mackenzie curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo.

sábado, 22 de agosto de 2009

Hollywood reinventa Esparta

A história do Rei Leônidas vira filme a partir de Graphic Novel.
Por Gabriel Leão em 25/07/2007


No MTV Movie Awards - premiação cinematográfica realizada pela emissora homônima estadunidense - o filme 300 (2007) que conta a história de 300 soldados espartanos que retardaram a invasão persa em 480 a.C levou o prêmio de melhor cena de luta. A atração constituída de novos recursos de filmagem e cenas impactantes será lançada em DVD no Brasil no dia 1º de Agosto. Além da bilheteria de US$ 450.234.156,00 a franquia ainda conta com uma Graphic Novel na qual se inspirou e artigos colecionáveis como bonecos, bonés e roupas.


A Batalha de Termópilas, um dos primeiros embates entre Ocidente e Oriente tendo como personagens espartanos e persas foi pouco retratada pela mídia, sendo preterida em filmes e livros épicos pelas passagens de imperadores romanos como Júlio César ou a Guerra de Tróia. 300 apresenta uma saga de heroísmo que renderia outras muitas versões nas quais poderiam ser abordados os pontos de vista dos atenienses que se ausentaram do combate, de Xerxes rei da Pérsia ou de um soldado espartano que sobreviveu ao embate como no livro Portões de Fogo de 1998. Em 1962 foi lançado o filme Os 300 de Esparta.


Muito diferente da versão cinematográfica que traz espartanos semi-nus no campo de batalha cobertos apenas por uma sunga e capa vermelha, os guerreiros históricos portavam uma armadura de placas e saiotes. Tão pouco o esquadrão de Xerxes, rei persa, não utilizava a máscara metálica ostentada no filme. Nos textos antigos, o exército persa possuía mais de 250.000 homens, porém, de acordo com pesquisadores atuais como Steven Pressfield, o número é próximo de 80.000 soldados.


“Filmes épicos raramente são fiéis ao que realmente ocorreu, mesmo porque a história naquele período era contada para vangloriar o feito do povo heleno”. Com essa afirmação o historiador e sociólogo, Flávio Benedito aponta a maneira ‘hollywoodiana’ de contar histórias, não muito diferente do historiador grego Heródoto (484 aC – 420 aC) conhecido por romantizar seus textos e até hoje uma das únicas fontes para aquele período.


O filme foi inspirado pela graphic novel de Frank Miller de mesmo nome. A obra impressa foi lançada pela editora Devir no Brasil e o responsável é editor Leandro Luigi. Para ele “Miller sempre apresenta personagens emblemáticos que, invariavelmente, se vêem diante de grandes adversidades e têm que de se reerguerem para que suas próprias essências que as distinguem de pessoas comuns voltem com força renovada”.


Para Luigi, Miller tentou ser fiel à história, porém “sempre é preciso ‘florear’ ou inserir elementos fictícios para dar mais força à narrativa e não deixar que a mesma se torne apenas uma transposição documentária.”


A Graphic Novel, lançada em 1998, chegou oito anos depois nas telas de cinema aos cuidados de Zack Snyder. Na verdade a versão de 1962 sobre a batalha era uma analogia à Guerra Fria e mesmo não obtendo sucesso o filme também serviu de inspiração para Miller.


O 300 de Zack Snyder que também dirigiu A Madrugada dos Mortos (2004), apresenta uma concepção gráfica computadorizada baseada em Sin City (2005), além de uma ação rápida e batalhas violentas. A história de Sin City também foi escrita por Frank Miller.


Os filmes épicos tiveram seu apogeu nas décadas de 50 e 60 sendo o mais significativo Ben-Hur de 1959 com Charlton Heston e vencedor de 11 Oscars. O último grande êxito durante esse período foi Cleópatra com Elizabeth Taylor em 1963. Hollywood só voltaria fortemente ao filão no ano de 1995 depois da aclamação de Coração Valente de Mel Gibson e o marco principal deste retorno é Gladiador de Ridley Scott lançado em 2000.


O Professor de Comunicação & Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Fernando Salinas explica que “no cinema você tem de adaptar a linguagem ao público, no começo dos épicos aparece escrito que não é totalmente baseada em fatos reais e devemos não esquecer que os 300 de Esparta em si já é uma lenda. Essa película foi feita para o público e não para historiadores”.

Texto produzido para a aula de Jornalismo Cultural ministrada por Maurício Stycer no Senac Lapa Scipião em 2007.