domingo, 23 de agosto de 2009

Água gratuita na balada para prevenir overdose

Política de redução de danos obriga casas noturnas a terem bebedouros


Por Gabriel Leão e Ulisses Andregueto em 24/11/2007


As casas noturnas de São Paulo possuem os preços mais altos de serviços do Brasil. Uma garrafa de água chega a custar R$ 6. Entretanto, com a Lei do Bebedouro, do deputado estadual Simão Pedro (PT), os estabelecimentos são obrigados a ter bebedouros disponíveis para os freqüentadores.


Promulgada em 7 de agosto, a lei não visa apenas a economia dos baladeiros, mas é também é uma política de redução de danos para os usuários de ecstasy que, em caso de overdose, podem morrer de desidratação.


De acordo com o deputado, a idéia para o projeto de lei surgiu há três anos, depois que recebeu a visita de mães de jovens viciados em ecstasy. Elas lhe contaram que seus filhos haviam sofrido overdose por não se hidratarem.


A Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas (ABEAD) orienta que se alterne o consumo de bebidas alcoólicas com água e bebidas não alcoólicas, o que auxilia o consumidor a não ficar embriagado, outro dos males que a lei tenta reduzir.
O pesquisador estadunidense Peter Jennings em seu trabalho “Ecstasy Rising” (A ascensão do Ecstasy, em tradução livre) afirma que, quando se usa qualquer tipo de droga estimulante, a temperatura corporal aumenta. Quando isso ocorre num ambiente quente como os das danceterias, nos quais há aglomeração de pessoas, a temperatura corporal sobe ainda mais, aumentando o risco de ataque cardíaco, que pode ser fruto de desidratação causada pelo consumo de drogas legais ou ilegais.


Para Simão, não é um passo para a legalização das drogas. “Trata-se apenas de uma política de redução de danos”, diz. “Não podemos ‘cobrir o sol com a peneira’. Os problemas existem e precisamos encontrar soluções.”


Para o DJ Mauro Borges, é estranho “oficializar” o consumo de drogas com a lei do deputado petista. O músico é líder do grupo Que Fim Levou o Robin, existente desde 1988, e conta que naquela década “o consumo era amplo, uma tradição iniciada nos anos 60, of course, mas era mais cocaína. Com os anos 90, vieram as drogas sintéticas como ecstasy, ácidos e cristal, e o número de usuários aumentou com a moda clubber”.


O DJ Marcos Vicente, organizador da festa Autobahn, afirma que em sua festa o consumo de drogas “é terminantemente proibido e todos os seguranças são orientados a não aceitar nada disso, mas tem casas que acham que precisam flexibilizar para manter o público. Recebi segurança novo procurando emprego que perguntou se podia liberar, porque na casa em que trabalhava ele recebia essa orientação”. Não existiria essa lei, segundo ele, se a repreensão fosse efetiva. “Nós não aceitamos, mas acho que a maioria das casas aceita”, complementa.


Para Vicente, proprietário da balada com temática dos anos 80 promovida no Hotel Cambridge, no centro, “quem tem dinheiro para comprar ecstasy com certeza tem condições de comprar uma garrafa de água. O argumento de Simão Pedro então é fraco, pois essa droga custa muito mais caro do que a garrafinha. Seria mais fácil combater o consumo do ecstasy nas casas. Isso evitaria não apenas esse distúrbio, mas todos os outros que podem ser causados pelo consumo de drogas”.

Reportagem produzida para a disciplina "Criação de Texto I" ministrada pelo Prof° Ms. Sérgio Rizzo. Universidade Presbiteriana Mackenzie curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo.

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