sábado, 22 de agosto de 2009

Azul, Branco e Vermelho Sangue

Por Gabriel Leão em 09/03/2008

Capitão América morre como ativista político em atentado

Criado por Jack Kirby e Joe Simon em 1941, o personagem estadunidense da editora de quadrinhos Marvel Comics morre na edição da revista Os Novos Vingadores nº 49 vítima de um atentado a bala.

O falecimento foi o ato final de Guerra Civil história na qual o presidente do país decretou que todos seres com habilidades paranormais revelassem suas identidades secretas. O herói Homem de Ferro concordou e liderou o grupo que aceitou desistir da sua privacidade em favor da sociedade enquanto seu amigo Capitão América mostrou-se à favor da liberdade e privacidade do individuo, o que é refletido em seu uniforme vermelho, azul e branco baseado na bandeira de sua nação que por sua vez buscou inspiração na Revolução Francesa e nas idéias do libertário John Locke.

O conflito eclodiu e enquanto ao lado de Capitão ficaram personagens como o x-man Wolverine, o Homem de Ferro buscou a ajuda do Sr. Fantástico do grupo Quarteto Fantástico. As tropas cresceram e logo mocinhos e bandidos escolheram seus lados formando estranhas alianças.

A Morte

Em 2005 o roteirista Ed Brubaker assumiu o título e apresentou o personagem como um ativista político. Sua morte foi semelhante à daqueles que tentam mudar as políticas naquele país como aconteceu com Martin Luther King, John Kennedy e Abraham Lincoln.

A arte sombria de Steve Epting misturada com a colorização de mesmo tom de Frank D’Armata anunciam o fim da trama que em uma era na qual após a queda do Muro de Berlim em 1989 é visível a falência das utopias é notável não haver espaço para os bonzinhos.

Capitão morre em frente ao tribunal de Nova York com o tiro de um atirador de elite localizado em um prédio e mais dois a queima roupa efetuado por sua amante sob efeito de hipnose a agente secreta Sharon Carter da S.H.I.E.L.D, espécie de “Super-C.I.A” ilustrando a traição de sua nação com ele e o sonho americano. Tanto que o título da Obra é A Morte do Sonho (2007).

O plano foi orquestrado por seu antigo vilão Caveira Vermelha remanescente da Segunda Guerra que abandonou o nazismo pelo anarquismo e se aliou ao psicólogo Dr. Fausto que cuidou de implantar o comando na mente da moça.

A história ganha importância dentro da cultura pop - vale lembrar que o nome de um dos motoqueiros do filme Sem Destino (1969) é Capitão América -. Sua morte foi manchete nos canais CNN e ABC além dos jornais impressos New York Post e Daily Post.

O personagem surgiu na década de quarenta do século XX para enfrentar a ameaça nazista de Hitler, em uma capa aparecia dando um soco no queixo do Führer. Com o fracasso do nazismo a identidade de Rogers foi assumida por outros homens que combateram o comunismo enquanto ele foi dado por morto e consequentemente seguiu para o limbo das bancas. Seu retorno se deu na década de 60 quando liderou o grupo Vingadores ao lado do Homem de Ferro.

Analogias

O arco de histórias é uma analogia aos direitos civis que com o ataque de 11 de setembro estão sendo desrespeitados colocando segurança acima de liberdade, e enquanto o personagem de Kirby e Simon assume uma postura de democrata seu rival pensa como um republicano.

A alegoria não termina no campo das idéias e vai até a aparência de ambos, enquanto a armadura tecnológica de Homem de Ferro representa o avanço pós-moderno das indústrias capitalistas iniciado na Guerra Fria ele também tem como alter-ego o ambicioso milionário Tony Stark, um fabricante de armas as quais vende para guerras em outros países, por outro lado Capitão usa um escudo que remete ao sentimento de proteção do povo que após dos ataques de Osama Bin Laden teve sua imagem abalada e acabou sofrendo queda nas vendas. Steve Rogers, identidade secreta do estrelado, viva lamentando sua incompetência em defender seus compatriotas no World Trade Center.

Enquanto os X-Men lidam com questões referentes às minorias e o Homem-Aranha representa a classe trabalhadora e no passado os universitários, o patriota encarava questões políticas e através dos gibis a editora publicava suas opiniões democratas principalmente a partir dos anos 70 sobre crises como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o escândalo Watergate e a guerra do Vietnã, porém quando tentou abordar o preconceito sofrido por imigrantes árabes e os males da guerra de Bush no Iraque sofreu retaliações dos fãs donos de uma visão semelhante ao do estadista.

Capitão América possui em seu sósia o Agente Americano sua contraparte de ala direita obsessivo por guerras e dotado de um patriotismo que pode ser visto como nacionalismo exacerbado.

Ficha Técnica
Captain America 25 (abril/2007 E.U.A)
Os Novos Vingadores 49 (março/2008 Brasil)

Roteiro: Ed Brubaker
Arte: Steve Brubaker
Cores: Frank D’Armata
Editor Original: Tom Brevoort
Editor Chefe: Joe Quesada
Tradução e Adaptação: Jotapê Martins/FL
Letras: Gisele Tavares
Editor (Brasil): Paulo França
Editora: Marvel Comics
Distribuidora: Panini Comics

Texto produzido para a disciplina "Criação de Texto II" ministrada pela Profª Ms. Márcia Detoni. Universidade Presbiteriana Mackenzie curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo.

Má Sorte McCarthy

Por Gabriel Leão em 09/03/2008

O filme Boa Noite e Boa Sorte (2005) de George Clooney traz muito de seu engajamento político liberal e denuncia a perseguição aos comunistas e simpatizantes numa nação que se diz “a terra da liberdade”, os Estados Unidos da América.


Na película, o guardião do establishment estadunidense é o senador McCarthy que com sua política de caça aos “vermelhos” prejudicou a vida de muitas pessoas que seguiam uma linha de pensamento diferente da republicana, entre elas o ator Charles Chaplin. Para enfrentá-lo surge o âncora de telejornal Ed Murrow dotado de pensamentos mais abertos e acaba se engajando em um combate de estratégia intelectual que serve como uma analogia da própria Guerra Fria, período pelo qual o país passava.


A maior parte da história se passa em uma redação da rede CBS (Columbia Broadcasting System), e mostra a presença da mulher como aquela que pega café, atende telefones e leva papéis para os homens, uma criatura servil assim como a esperavam que fosse no lar. É notável a total ausência de negros. Esses dois fatos atestam que as idéias dos movimentos civis pelas minorias já estava começando a surgir em 1953.


O figurino, a trilha sonora jazzística e a fotografia em preto e branco não apenas representam um período, mas também trazem de volta o noir que ditou os filmes de detetive com Humphrey Bogart, nos quais seus personagens assim como Murrow usavam a inteligência.


David Strathairn faz o papel do âncora em uma atuação notória tão procurada em sua carreira, inviável em diversos trabalhos anteriores em séries e filmes de relevância cultural menor. Os maneirismos foram copiados com excelência, incluindo o vício em tabaco apresentado na tela pelo artista que reflete bem o status conferido pelo cigarro.


Clooney mostra que não pode ser estereotipado como o galã canastrão de Hollywood como alguns estúdios tentaram fazer em seu início de carreira, tanto que hoje ele até brinca com essa imagem em filmes como Onze Homens e Um Segredo (2001). Em Boa Noite e Boa Sorte, seu personagem é Fred Friendly, melhor amigo de Murrow e produtor do programa, é um tipo sério que quando necessário segura a vontade do jornalista em se tornar um justiceiro.


Apesar de se passar há mais de 50 anos ele ainda é atual, porque os noticiários ainda sofrem restrições e hoje, em vez de lidar com a Guerra Fria acompanham a do Iraque, Quênia e Palestina. Os brasileiros também podem compreender por ter muitas oligarquias políticas donas de veículos de comunicação mantendo-os tolhidos assim como os estatais são pelos governos. O filme não ataca apenas a metodologia de McCarthy, mas também a mídia de massa e a xenofobia com estrangeiros que assola o país desde 1930 mostrada em filmes de gangsteres vindos da Europa, espiões nazistas, agentes comunistas e terroristas muçulmanos.


Ficha Técnica
Nome: Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck)
Duração: 93 minutos
Ano: 2005
Direção: George Clooney
Elenco: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr, Jeff Daniels
Cor: Preto e Branco
Gênero: Drama

Texto produzido para a disciplina "Criação de Texto II" ministrada pela Profª Ms. Márcia Detoni. Universidade Presbiteriana Mackenzie curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo.